The World of Gerard van Oost and Oludara

Postagens marcadas com ‘lugares’

Ketu

Em “O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara,” Oludara menciona que “Venho do Reino de Ketu”.

Dos sete reinos históricos iorubanos, Ketu foi estabelecido mais para o oeste. A tradição iorubana conta que estes reinos foram fundados pelos descendentes da orixá Odudua quando eles migraram de Ilé-Ife. Odudua é mãe da Terra, que ela criou ao mando do orixá supremo, Olorun.

Sopasan é o primeiro oba histórico na linha dos obas de Ketu, embora a cidade não existisse durante a sua vida. Foi ele que liderou o povo de Ilé-Ife que, eventualmente, habitaria Ketu. Apenas o sétimo oba, Ede, fundará a cidade.

A cidade foi erguida num planalto com escassas fontes de água, de tal forma que o povo ioruba criou um ditado à respeito: “Água vira mel em Ketu”. Como forma de amenizar a falta de água, os habitantes coletavam a água da chuva em cisternas e poços. A falta de água limitou o tamanho da povoação. Porém, o planalto ofereceu uma excelente proteção—a cidade foi conquistada apenas uma vez em toda a sua longa história.

Plaque de bronze, século XVI, Benin

(Fonte: Penn Museum)

A cidade foi construída ao redor de uma árvore iroco sagrado. De acordo com o costume da época, foi necessário um sacrifício humano para proteger a cidade. Um corcunda de uma comunidade falante de evê foi sacrificado na entrada da cidade, história esta que parece ter dado à cidade o seu nome. A pergunta “Quem consegue endireitar a corcova?” é “Ke ‘tu ike?” em ioruba. A resposta: ninguém consegue endireitar a corcova, portanto ninguém consegue destruir a cidade. O décimo-quarto oba, Sa, construiu um portão no mesmo lugar. O portão, esculpido de madeira de iroco, incluiu duas portas maciças de madeira, uma por dentro e uma por fora. Ele foi batizado Idena, que quer dizer “sentinela”.

Um imenso muro de barro partia do portão e estendia-se até cercar toda a cidade. Ao escavar o barro para construir o muro, o povo criou grandes trincheiras do lado de fora, oferecendo uma proteção ainda maior.  Como defesa final, os moradores plantaram uma cerca de arbustos espinhosos além das trincheiras.

Resquícios das trincheiras de Ketu

(Imagem: Centre of World Archaeology)

O Oba de Ketu assume o título “Alaketu” ou “ele a quem pertence Ketu”. Desde o vigésimo-quinto Alaketu, a posição de oba tem circulado entre cinco famílias reais: Alapini, Magbo, Aro, Mesa e Mefu.

Máscara de cinto de mármore – século XVI, Benin

(Imagem: www.metmuseum.org)

À oeste, Ketu fazia fronteira com o povo falante de fon que, eventualmente, fundaria o reino de Daomé e se transformaria em seus maiores rivais. Depois de várias guerras, Ketu e seus vizinhos de origem fon caíram sob o domínio dos franceses e foram unificados na nação moderna de Benin, enquanto a maioria dos outros reinos iorubanos foram subjugados pelos britânicos e se tornaram parte da Nigéria.

Ketu ainda existe hoje, sob o nome francófono de Ketou. É uma cidade com uma história longa e rica, com tradições e uma linhagem de reis de mais de seiscentos anos. Hoje em dia, muitos viajantes falam com o próprio Alaketu para aprender parte desta história magnífica.

Salvador

Não é à toa que as aventuras de A Bandeira do Elefante e da Arara começam na cidade de Salvador. Na época das viagens de Gerard van Oost e Oludara, Salvador era a capital e a cidade mais importante do Brasil.

De acordo com documentos da época, a população da cidade e arredores incluía cerca de 7.000 habitantes de origem portuguesa ou mesclada portuguesa-tupinambá, e 8.000 tupinambás nas terras adjacentes – muitos deles cristãos convertidos. Havia, também, aproximadamente 3.000 escravos africanos, um número em pleno crescimento.

Early 17th century map of Salvador

Mapa de Salvador no começo do século XVII

Embora tenham ocorrido tentativas anteriores para colonizar a região, a ocupação permanente de Salvador começou em 1549, quando Dom João III de Portugal mandou Tomé de Sousa e mais de quinhentos homens (e menos de dez mulheres) para estabelecer uma cidade à margem da Baía de Todos os Santos. Tomé conseguiu fundar o que seria a capital do Brasil por mais de duzentos anos.

sal1612

Salvador em 1612

sal2007

Salvador in 2007

Hoje, uma visita a Salvador é uma viagem pelo tempo. O Centro Histórico da cidade, onde aconteceu o primeiro encontro de Gerard e Oludara, dispõe não apenas de prédios e monumentos históricos, mas também a comida, dança e música singulares que emergiram da mistura de culturas africanas com as europeias ao longo de séculos.

saltoday

saltoday2

Salvador, para quem visita, é uma cidade inesquecível.

(Ilustrações: salvadorantiga.blogspot.com Fotos: Christopher Kastensmidt)

Torre de Belém

Em “O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara”, Gerard repara em uma pintura no escritório do Pero de Belém em que ele reconhece a Torre de Belém.

Construído entre 1515 e 1521 para comemorar a famosa viagem de Vasco da Gama da Europa até a Índia, este prédio impressionante pode ser considerado o símbolo mais importante que nos resta hoje da Era dos Descobrimentos de Portugal. Durante aquela época, o pequeno país chegou a dominar metade dos mares do mundo.

tf11ag_pt

(Imagem: Governo de Portugal)

A Torre de Belém, cujo propósito principal era a defesa da entrada do Porto de Lisboa, era um dos últimos pontos de referência que os exploradores observavam ao embarcar nas suas viagens marítimas extraordinárias através do Oceano Atlântico. O caso de Gerard não foi diferente; ele admirou a famosa torre no começo da sua fadada viagem de Portugal ao Brasil.

tf123ag_pt

(Imagem: Governo de Portugal)

A torre contém decorações de elementos marítimos, símbolos cristãos e uma mistura de arquitetura gótica e mulçumana. Este estilo chama-se manuelino, por ser desenvolvido durante o reino de Manuel I de Portugal.

tf21ag_pt

(Imagem: Governo de Portugal)

Hoje, a torre encontra-se na freguesia de Santa Maria de Belém, no município de Lisboa. Ela foi tombada como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 2007.